Realização da assembleia da IAU
no Rio é reconhecimento da capacidade de nossos astrônomos
Augusto Damineli
A astronomia brasileira está
conquistando um novo estágio em sua história. Isso ficou claro na realização da
Assembleia Geral da IAU no Rio de Janeiro, entre 3 e 14 de agosto passado. Na
avaliação dos aproximadamente 2.500 cientistas participantes, o encontro foi um
dos melhores dos últimos tempos.
A escolha das sedes das
assembleias da IAU é definida especialmente pelo interesse da comunidade
internacional pela atividade astronômica no país e pela competência dos
anfitriões em organizar um evento tão complexo como esse. Ao longo de duas
semanas foram realizados 31 congressos, sendo 19 deles com brasileiros em seus
comitês científicos.
Essa participação não foi apenas
por cortesia dos estrangeiros, pois a reputação de um congresso é avaliada pela
estatura científica do comitê. A comunidade internacional já havia notado que
nossa astronomia cresce a uma taxa acima de 10% ao ano em termos de publicações
e formação de doutores desde 1970. Esse crescimento é ímpar no mundo. Além
disso, o Brasil tem investido em projetos de grande porte, como os telescópios
Gemini de 8 metros (no Havaí e Andes chilenos) e o Soar de 4 metros (nos Andes
chilenos). Alguns de nossos astrônomos têm demonstrado competência na gestão
desses projetos, como também em comissões internacionais que publicam revistas
científicas e a própria IAU, onde temos a vice-presidência.
Para os pesquisadores e
estudantes da área, o acesso a dados científicos nunca foi tão abundante. Além
dos telescópios Gemini e Soar, compramos acesso temporário ao Telescópio
Canadá-França-Havaí (CFHT, na sigla em inglês), de 3,6 metros, no Havaí; por
troca de tempo com o telescópio Gemini temos acesso aos telescópios Keck de 10
metros e ao Subaru de 8 metros (ambos no Havaí). E, por troca de tempo com o
Soar, temos acesso ao Telescópio Blanco de 4 metros (no Chile).
Os pesquisadores e estudantes de
pós-graduação têm demonstrado habilidade no uso desses recursos. No Gemini e
Soar, nossa comunidade publica o dobro de artigos científicos (por unidade de
tempo disponível) que os parceiros de melhor performance. Isso encorajou o
ministro de Ciência e Tecnologia a anunciar, durante o encontro, que a cota de
acesso ao Gemini será duplicada em 2010 e que o governo está estudando a
participaçãodo Brasil no telescópio de 42 metros (o Extremely Large Telescope)
que a Europa planeja construir nos Andes chilenos. O capital viria dos
trabalhos de construção civil por companhias brasileiras que já operam na
região e pelo fornecimento de aço e alumínio.
Uma área muito dinâmica e com
potencial de melhoria de nossos processos industriais é a fabricação de
instrumentos de observação. Construir telescópios dá dinheiro, mas, como duram
muito tempo, só poucas empresas no mundo se interessam por esse mercado. Os
instrumentos, em contrapartida, podem ser renovados a cada poucos anos, dependendo
do aparecimento de detectores de melhor performance, componentes ópticos de
melhor transmissão de luz, computadores mais velozes ou de maior capacidade de
memória e sistema de controle das oscilações atmosféricas como a óptica
adaptativa.
Ainda este ano o Brasil vai
colocar dois espectrógrafos de campo integral para funcionar no Soar (o SIFS e
o BTFI). Um terceiro espectrógrafo, mono-objeto, mas de alta resolução
espectral (Steles), irá para lá no próximo ano. Instrumentos desse porte são
chamados de “classe mundial” e envolvem tecnologia de ponta em óptica, mecânica
e controle. Além de permitir o aumento de qualidade e quantidade de dados em
comparação aos equipamentos de geração anterior, eles são um excelente cartão
de visita para os usuários estrangeiros, certificando nossa capacidade técnica.
Uma outra fonte importante de
dados são os observatórios virtuais. Com o aumento da capacidade computacional
e do poder de comunicação da Internet é possível oferecer as bases de dados já
coletados por telescópios em solo e no espaço. Essa organização mundial se
chama International Virtual Observatory Alliance (Ivoa), da qual o Brasil
passou a fazer parte desde maio passado, através do Brazilian Virtual
Observatory (Bravo). Qualquer internauta, ao acessar um observatório virtual,
pode requisitar que o ponto do céu em que está interessado seja apresentado em
diferentes janelas espectrais. Ou seja, os observatórios virtuais permitem uma
visão multiespectral do céu, varrendo a faixa de raios gama, raios X, ultravioleta,
visível, infravermelho e rádio. As oportunidades de descobertas são enormes.
A Assembleia no Rio de Janeiro
tomou diversas decisões para implementar um plano de expansão da astronomia no
mundo. Esse plano decenal (2010-20) prevê, além do progresso instrumental, um
maior impacto no sistema educacional e inclusão social. Foi lançado o Portal
para o Universo (http://www.portaltotheuniverse.org), que congrega todos os
recursos em astronomia. O programa aumentará o número de centros de pesquisa em
países não desenvolvidos, entre outros objetivos.
Fonte: Scientific American
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